Saturday, May 7, 2011

Amr Moussa quer que Israel 'também seja amigo'

Saturday, May 7, 2011

Matt Bradley
The Wall Street Journal, do Cairo

O favorito para as eleições presidenciais no Egito disse que, se eleito, vai romper com as políticas amenas do ex-presidente Hosni Mubarak em relação a Israel.

Amr Moussa, de 74 anos, que está deixando o comando da Liga Árabe, disse numa entrevista exclusiva ao Wall Street Journal que as tentativas do antigo regime de solucionar o conflito entre Israel e os palestinos "levaram a lugar nenhum" e que o Egito precisa agora de políticas que "reflitam a opinião do povo".

Moussa também descreveu um cenário político em que a Irmandade Muçulmana, tornada ilegal por Mubarak, é o movimento dominante. É inevitável, disse ele, que as eleições parlamentares de setembro criem um legislativo dominado pelos islâmicos e com a irmandade no comando.

Moussa, que tem um histórico político de secularismo, encabeça atualmente a lista de candidatos nas pesquisas de opinião para o que os egípcios esperam que seja a primeira eleição presidencial livre e justa na história do país, no fim de novembro.

Mas se Moussa, que foi ministro das Relações Exteriores de Mubarak entre 1991 e 2001, for eleito, espera-se que ele vá acelerar a mudança na política exterior do Egito, mudança que já causou constrangimento a diplomatas israelenses e americanos.

Desde que demonstrações gigantescas derrubaram o regime de Mubarak, em fevereiro, o novo governo militar do Egito negociou um acordo de compartilhamento de poder entre a Autoridade Palestina e o partido de militantes islâmicos Hamas, prometeu recuperar o relacionamento do Egito com o Irã e anunciou planos de abrir permanentemente a fronteira do país com a Faixa de Gaza, bloqueada pelo vizinho Israel, que protestou contra essa decisão.

Moussa e diplomatas egípcios já descreveram a nova abordagem do Egito para a política regional como uma reabertura diplomática, em vez de um realinhamento.

Sob o comando de Mubarak, o Egito provavelmente foi o aliado político mais próximo de Washington no mundo árabe. Ainda que ter seguido a linha americana em suas políticas para Israel, os palestinos e o Irã tenha tido seus benefícios, também custou ao Egito a forte influência que tinha antes numa região que assiste à mudança política mais profunda em mais de uma geração.

Moussa disse querer que o novo Egito democrático reconquiste seu lugar de direito como o país mais poderoso do mundo árabe. Isso inclui firmar a posição de Cairo em relação a Israel.

"Mubarak tinha uma política, era sua própria política e não acho que teremos de segui-la", disse ele. "Queremos ser amigos de Israel, mas os dois lados precisam participar, não é só papel do Egito ser amigo. Israel também precisa ser amigo."

Recuperar o status do Egito, diz ele, exige uma perspectiva mais populista sobre política externa. "Vivemos no século XXI e precisamos fazer parte do grupo de países que influenciam as atuais circunstâncias da região ou do mundo", disse ele na entrevista quarta-feira em seu escritório na Liga Árabe, a menos de uma quadra da Praça Tahrir, o centro dos protestos que derrubaram Mubarak. "Estávamos fora desse círculo. Temos de voltar a ele como parceiros na liderança mundial."

Moussa deve a maior parte de sua popularidade às críticas constantes a Israel e EUA quando era ministro das Relações Exteriores. Nos últimos anos, por exemplo, ele afirmou que o programa nuclear de Israel, que o país não admite, é uma ameaça maior que o programa nuclear do Irã.

Nos bastidores, os governos dos EUA e de seus aliados estão manifestando preocupação com a linha cada vez mais agressiva do Egito em relação a Israel. Autoridades americanas e dos países aliados acreditam que a retórica agressiva de Moussa e outros candidatos a presidente do Egito pode aumentar à medida que o Cairo se aproxime das eleições.

Ainda assim, autoridades americanas e europeias disseram que não vêem um acordo de paz Egito-Israel em risco no curto prazo. Elas disseram que Cairo não vai pôr em risco bilhões de dólares em ajuda.

Mas as autoridades israelenses alertam que, ao enfraquecer seu relacionamento com Israel, o Egito pode acabar perdendo seu lugar como um mediador "confiável" das negociações de paz entre israelenses e palestinos.

Moussa também apoia irredutivelmente a economia de mercado no Egito, bem como o câmbio livre e sua relativa abertura ao comércio internacional.

O último governo conseguiu realizar várias reformas econômicas liberalizantes nos últimos dez anos que expandiram a economia, mas enriqueceram apenas uns poucos egípcios já abastados, enquanto os salários da população de baixa renda não acompanharam a inflação.

Numa crítica aos reformistas pró-mercado que comandaram o gabinete ministerial do regime de Mubarak, Moussa disse que o povo egípcio tem que sentir imediatamente o impacto das reformas políticas. "Temos 40% da população pobre. Não dá para lidar com isso como se aos poucos [essa riqueza] fosse filtrar para os pobres em dez anos", disse ele.

Numa pesquisa recente do Pew Research Center, 89% dos egípcios disseram ter uma impressão positiva de Moussa — bem acima de concorrentes como Ayman Nour, que tem 70% da aprovação dos egípcios. Mohammed ElBaradei, ganhador do Prêmio Nobel, tinha a aprovação de 57% dos eleitores.

Mohammed Salmawy, um editor de jornal, analista político e amigo pessoal de Moussa, diz que, em meio à turbulência do Egito, "Moussa está na frente porque dá às pessoas uma certo sensação de segurança".

Mas o ex-ministro das Relações Exteriores, que teve vários cargos de alto escalão no governo Mubarak, ainda enfrenta a percepção entre defensores da democracia de que não passa de um lacaio do regime.

"Para mim o Amr Mousse é Mubarak II", disse Hossan Bahgat, um ativista dos direitos humanos em Cairo. "Um Mubarak mais educado e articulado que vai estabelecer as mesmas políticas de Mubarak."

A popularidade de Moussa foi às alturas nos anos 90, culminando em 2001 com o lançamento do improvável sucesso pop "Eu Odeio Israel (Eu amo Amr Moussa)", do cantor Shaaban Abdel Rahim. Quando Mubarak escolheu Moussa para ser o candidato egípcio ao comando da Liga Árabe, muitos egípcios suspeitaram que o presidente estivesse tentando afastar um possível concorrente.

Moussa disse que os motivos de sua demissão foram menos uma questão de ciúme mesquinho que uma discordância sobre a política do Egito em relação a Israel.

"Houve um conflito entre nós, não há dúvida", disse Moussa. "Uma discordância entre o presidente e seu ministro das Relações Exteriores sobre certas políticas, que incluiu, mas não se limitou, às políticas para Israel, que achei que estavam levando a lugar nenhum. E elas levaram a lugar nenhum. Já se passaram 11 anos desde que saí. Onde é que estamos?"

(Colaboraram Joshua Mitnick e Jay Solomon)



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