Atsuko Fukase e Dana Cimilluca
The Wall Street Journal, de Tóquio
A oferta da Takeda Pharmaceutical Co. para comprar a concorrente suíça Nycomed, uma jogada ousada que pode custar até US$ 14 bilhões, mostra como as grandes empresas japonesas estão dispostas a ir ao exterior em sua busca de crescimento num momento em que enfrentam uma fraca economia interna, sacudida pelo terremoto.
Se tudo der certo, o acordo, estimado entre US$ 12 bilhões e US$ 14 bilhões, pode ser anunciado na semana que vem, disse uma pessoa a par da questão.
O terremoto forçou o empresariado japonês a enfrentar uma crise na cadeia de suprimento e apagões causados por danos a usinas nucleares no noroeste do Japão, o que paralisou a incipience recuperação econômica do país.
As grandes farmacêuticas japonesas são algumas das empresas do país que mais fizeram aquisições nos últimos anos.
Mas as negociações, divulgadas primeiro na manhã de quinta-feira, em Tóquio, pela Bloomberg News, suscitam questionamentos de banqueiros e analistas sobre a possibilidade de a maior farmacêutica do Japão em faturamento estar prestes a cometer um erro caro.
Stephen Barker, analista da MF Global FXA Securities Ltd., disse que pagar US$ 10 bilhões pela Nycomed "não seria barato mas também não é um valor absurdo".
A Takeda provavelmente usará recursos em caixa para custear a aquisição — ela tinha um total de 872,7 bilhões de ienes (US$ 10,8 bilhões) em dinheiro e equivalentes de caixa no fim de março — e, para financiar o restante, provavelmente pedirá a seus principais bancos que concedam empréstimos e também deve emitir títulos, segundo uma pessoa a par da questão.
A aquisição seria a segunda maior já feita por uma empresa japonesa no exterior, segundo a firma de dados financeiros Dealogic, e ocorreria num momento em que comprar empresas no exterior ficou realmente barato para o Japão, com o iene a uma cotação de 80 frente ao dólar e 114,50 em relação ao euro. O maior acordo do tipo até agora foi a compra em 2006 da britânica Gallaher Group PLC pela Japan Tobacco Inc., um negócio de US$ 14,7 bilhões.
Para a Takeda, a aquisição da Nycomed é impulsionada principalmente por sua antiga ambição de ganhar mais presença em mercados emergentes de rápido crescimento como China e Brasil. A Nycomed possui fábrica em Jaguariúna, SP, e produz marcas como Neosaldina e Reparil.
O fim iminente da patente de remédios tem assolado o setor inteiro e é visto como o principal fator por trás de aquisições recentes.
"Seria melhor se [a Takeda] tivesse mais exposição aos mercados em desenvolvimento. E não é só eles. A maioria das farmacêuticas japonesas ficou para trás do resto da indústria farmacêutica mundial em termos de mercados em desenvolvimento fora dos Estados Unidos, Europa e Japão", disse Barker.
Analistas em Zurich dizem que o preço provavelmente reflete o potencial de crescimento da Nycomed nos mercados emergentes e o valor agregado da plataforma de distribuição da empresa, que propicia uma maneira de a Takeda disseminar seus remédios.
O presidente da Takeda, Yasuchika Hasegawa, disse ontem que a empresa vai incrementar a presença na China e outros mercados emergentes para compensar os efeitos da perda de suas patentes. "Queremos conquistar os benefícios do crescimento nos mercados emergentes. A questão mais urgente é a expansão no médio e longo prazo de nossa presença na China", disse Hasegawa.
A Nycomed é controlada por vários investidores de private equity, como a Nordic Capital e a DLJ Merchant Banking. Ela conseguiu aumentar sua presença em mercados emergentes como Ásia, Rússia e América Latina, que geram quase 40% do faturamento anual, de 3,17 bilhões de euros (US$ 4,5 bilhões).
As vendas em mercados como Rússia e Brasil subiram cerca de 30% ano passado, à medida que a farmacêutica suíça incrementava sua presença na região com novos acordos de distribuição. Embora ela já tenha alertado que suas iniciativas atuais para crescer vão aumentar seus custos em 2011 — a empresa está promovendo seu remédio respiratório via oral Daxas, entre outras coisas —, analistas dizem que a trajetória de crescimento da Nycomed permanecerá intacta mesmo com a perda da patente nos EUA do remédio contra azia Protonix.
Há muito tempo que a Nycomed é considerada uma ótima candidata para uma abertura de capital na Bolsa de Zurich e ela chegou a cogitar fazer isso antes de o diretor-presidente, Hakan Björklund, dizer no fim de 2010 que não haveria oferta pública no curto prazo. Os analistas disseram na época que a baixa das bolsas pode ter forçado a Nycomed a abandonar os planos. O possível acordo com a Takeda, dizem analistas, surge também num momento em que os mercados financeiros ainda estão sob pressão e as ofertas iniciais de ações do setor farmacêutico andam escassas.
As tentativas da Takeda de aumentar o número de remédios em desenvolvimento é um dos principais motivos para ela tentar a aquisição. A Nycomed registrou recentemente com as autoridades dois compostos experimentais e também conta com vários produtos nos estágios intermediários e finais de desenvolvimento.
Para a Takeda, expandir-se fora do Japão e desenvolver novos produtos é algo crucial: a patente de seu importante remédio contra úlcera Prevacid já venceu nos EUA, bem como a do popular tratamento contra diabetes Actos. As grandes fabricantes de genéricos planejam lançar suas versões do remédio em agosto do ano que vem.
A empresa prevê que seu lucro líquido no ano fiscal iniciado em abril de 2013 vai cair 35% em relação ao ano fiscal de 2010, para 160 bilhões de ienes, com faturamento de 1,26 trilhão de ienes, 11% menor que o do período citado.
(Colaboraram Kana Inagaki e Goran Mijuk)
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